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HPV e Covid-19: e agora?

Muitas mulheres aguardam ou tinham consultas agendadas por alterações do Papanicolaou e/ou testes de HPV positivos. Se, já em tempos normais, estes são causa de ansiedade, nesta altura, em que quase todas as consultas foram canceladas, esta multiplica-se: à incerteza do significado destes resultados, junta-se a de quando será a consulta e quais os riscos reais e consequências desta espera.


A ASCCP (American Society for Colposcopy and Cervical Pathology) emitiu recentemente directrizes relativamente à orientação destes casos:

- Quando risco de risco de lesão de alto grau é baixo, as reavaliações poderão ser adiadas por um período de 6-12 meses;

- No caso de lesão de alto grau (HSIL), preconiza-se o adiamento da realização de exames adicionais (colposcopia) por um período de até 3 meses;

- Após colposcopia e exclusão de lesão invasora (cancro), o tratamento (exérese da zona de transformação/conização) pode ser adiado por até 3 meses.


Tratam-se de meras recomendações, que devem ser avaliadas caso a caso, exclusivas para este período difícil: a probabilidade de complicação severa subsequente à Covid-19 é superior à de um cancro do colo do útero, mesmo na mulher com uma lesão intraepitelial de alto grau. Mesmo tendo que gerir a ansiedade, é preferível aguardar algumas semanas para a realização de colposcopia ou de conização - mesmo que tal implique adicionar ansiedade à já inerente a este período negro.


Algumas questões que podem ajudar a lidar com a ansiedade associada a um teste de HPV/Papanicolaou alterados:


1. O objectivo do rastreio é detectar cancros do colo do útero?

Não. Embora frequentemente se fale de rastreio do cancro do colo do útero, o objectivo é encontrar lesões precursoras e, quando indicado, tratá-las atempadamente. Contudo, por vezes, também são detectados cancros - situação felizmente cada vez mais rara entre nós, devido ao atempado rastreio.


2. Alguém que tenha uma lesão de alto grau vai ter um cancro do colo do útero?

Os cancros do colo do útero são precedidos por lesões de alto grau (CIN2/3). Uma lesão de CIN3 tem uma probabilidade de progredir para invasão (cancro) estimada em 10-30% e, normalmente, em mulheres imunocompetentes, tal processo demora mais de uma década.


3. Após uma biópsia revelar/confirmar uma lesão de alto grau, qual a probabilidade de que nesse momento já haja um cancro do colo do útero?

Há alguma discrepância entre os estudos. Nalguns casos, foram encontrados cancros em perto de 5% das mulheres; na maior parte dos estudos esse risco revelou-se inferior a 1%.


4. Se o HPV for positivo para o 16, o risco é muito maior?

O HPV16, conjuntamente com o 18, são responsáveis por cerca de 3/4 dos cancros do colo do útero. Uma mulher com um teste de HPV positivo para o 16 tem um risco de cancro do colo do útero 400 vezes superior ao de uma que o tenha negativo. Contudo, também é verdade que 10-15% das mulheres acima dos 30 anos têm o teste de HPV positivo e que, destas, o mais comum é o 16! Ou seja, o facto de estatisticamente ser verdade que o risco é "muito maior", na maior parte dos casos não significa sequer que haja lesão significativa!


5. Quem iniciou a vacina contra o HPV e tinha previsto fazer alguma das tomas neste período, o que deve fazer?

Os intervalos preconizados (mês 0, 2 e 6) são os mínimos que se devem fazer entre cada toma. É importante que o esquema seja completado em menos de 12 meses, para que não haja perda de eficácia. Assim, é preferível adiar as doses restantes para após o período de quarentena. No fundo, é semelhante ao que já acontecia quando a mulher engravidava e estava a fazer a vacina contra o HPV: interrompia e completava após o parto!








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